Tenho o santo horror da
frieza calculada, da boa educação, do prudente juízo duma mulher. Aos homens
pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito
cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo,
se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio
ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim...
Comigo
hás-de ter sempre que pensar e que fazer.
Hás-de rir das minhas tolices,
hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de ser pequeninos...) e
hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com
todo o juízo que todos os deuses lhe deram.
Florbela Espanca. "Correspondência (1920)"
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