domingo, 3 de fevereiro de 2013

Mudei...


Mudei...
Fiz tudo do avesso para ver se sou agraciada com alguns brindes.
 Mudei...
O certo é que serei alguma coisa contrária ao normal, pois ser assim me parece viver a vida com liberdade. 
Tomei a decisão de fazer tudo descontraído.
 Viver certinho é vago, ríspido e sonolento.
Mudei...
 Personalizei meus desejos.
 Tomei minha vontade em drinques generosos.
Segui minha imaginação.
Virei desenhista nas estrelas.
Escritora de poemas na areia ou cantora de amor nas montanhas.
 Plantei jardim no asfalto.
Acordei o dia e embalei a noite.
 Liguei para o infinito convidei para jantar e pedi que trouxesse também o “para sempre”. 
Bordei nas galáxias.
 Pintei o deserto.
 Escalei mares.
Telefonei para a tristeza e disse para ela me esquecer.
 Eu mudei e isso não é brincadeira.
Dormi para sonhar os sonhos interrompidos.
 Vendi alegria em praça pública.
 Troquei as nuvens escuras do céu.
 Dispensei a saudade.
Fiz amizade com a esperança.
Contratei o bom humor.
Agora me aventuro mais por aí. 
Agora moro numa casa mais ampla, com lugar para todos.
A porta está sempre aberta para os visitantes, inclusive para os ventos da primavera que chegam trazendo perfume.
Mudei...
 Agora usufruo da legítima alegria da liberdade.
 Tenho desejos azuis...
Sonhos esverdeados...
 Imaginação alaranjada...
 Confiança avermelhada...
 Mudei e achei muito bom.
Mudei de casa...
 De vida... 
Mudei, porque do outro jeito não fazia mais inverno e nem verão.
 Mudei por causa do prazo de validade dos sentimentos.
 Mudei porque estava enjoada do mesmo toque da guitarra.
 Da fria cama noturna.
Da secura obrigatória dos dias sem sol.
Da mesma música...
 Mesma rua...
 Mesma lista de intermináveis desejos sem solução.
 Mudei e fiz até bolinho de chuva em dias de sol.
 Troquei o romântico pelo rock.
 Retirei o salto alto e coloquei os pés nas nuvens. 
Sepultei a tristeza.
Mudei o parágrafo, resolvi as reticências, escondi as dúvidas dentro dos parênteses.
Rebobinei a vida e dei um nó cego no amor para ele nunca mais sair sem pedir licença. 
(Ita Portugal)



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