sábado, 19 de março de 2011

O Pequeno Príncipe


E foi então que apareceu raposa:
- Bom dia – disse a raposa.
- Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe que, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui – disse a voz – debaixo da macieira...
- Quem és tu? – perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa – disse a raposa.
- Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou muito triste...
- Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa – disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?
- Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer “cativar”?
- Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
- É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. – Significa “criar laços”...
- Criar laços?
- Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível – disse a raposa. – Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra – disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito – suspirou a raposa.
Mas a raposa retornou o seu raciocínio.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se me cativas, minha vida será com que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse musica. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo.
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! – disse ela.
- Eu até gostaria – disse o principezinho. – Mas não tenho muito tempo.  Tenho amigos a descobrir e muitas coisas  a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas, como não existe lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
- É preciso ser paciente – respondeu a raposa. – Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa. – Se tu vens, por exemplo, às quatro horas, então estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso um ritual...
(...)

Assim, o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu ano queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis – disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! – disse ele.
- Vou – disse a raposa.
- Então, não terás ganhado nada!
- Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo. Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosa. Assim compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
(...)

E voltou, então, à raposa:
- Adeus... – disse ele...
- Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com minha rosa... – repetiu ele, para não se esquecer.
- Os homens esqueceram essa verdade – disse ainda a raposa. – Mas tu não a deves esquecer. TU TE TORNAS ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVAS. Tu és responsável pela tua rosa...

Antoine de Sant-Exupéry



OBS:  Esses trechos é do belíssimo livro “ O Pequeno Príncipe” do autor Antoine de Sant-Exupéry.
Para mim particularmente esses trechos são os mais belos e encantadores, pois, mostram a verdade dentro da fantasia... E fala dos mais lindos e nobres sentimentos, e dentre eles estão a amizade, alegria, felicidade e o amor sob todas as formas...


2 comentários:

  1. Hola Liza, siempre he amado esa maravillosa novela llamada El Principito.
    Un beso grande,

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  2. Olá Liza, foi à poucos meses atrás que li « 0 principezinho». Fiquei fascinado
    como o livro, que à partida até parece ser exclusivo para crianças,e que de uma forma tão simples nos consegue transmitir mensagens tão profundas.Obrigado por me teres recordado. E já agora, é maravilhosa esta imagem em cima :)

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